domingo, dezembro 13, 2009
terça-feira, dezembro 08, 2009
quarta-feira, outubro 28, 2009
quinta-feira, outubro 22, 2009
segunda-feira, outubro 19, 2009
Escrivinhando...
Blog aparentemente abandonado, mas sem intenção. Por que será que o fio da meada se perde? Ou não é nada disso e preciso admitir ser uma péssima administradora? Não sei. A cabeça ferve com inúmeras informações, revelações e os neurônios não tão bebezinhos pedem colo há tempos.
"A Casa Amarela" tinha o final de sua história relacionada à Charlotte totalmente alinhavada onde faltavam apenas uns detalhes mínimos, e o conto chegaria finalmente (depois da terrível falta de tempo) ao fim, mas em função de umas voltas que a vida dá, me vejo obrigada a transformar a história de Charlotte, pois sua história poderia parecer ter alguma relação com a história atual da autora e o grand finale de Charlotte poderia parecer uma premonição.
E rasga papel daqui e dali, imagino Charlotte me olhando de cara feia porque estava adorando o final do seu conto. Sorry, dear, você vai ter que esperar a volta da minha inspiração.
imagem: FFFFOUND!
"A Casa Amarela" tinha o final de sua história relacionada à Charlotte totalmente alinhavada onde faltavam apenas uns detalhes mínimos, e o conto chegaria finalmente (depois da terrível falta de tempo) ao fim, mas em função de umas voltas que a vida dá, me vejo obrigada a transformar a história de Charlotte, pois sua história poderia parecer ter alguma relação com a história atual da autora e o grand finale de Charlotte poderia parecer uma premonição.
E rasga papel daqui e dali, imagino Charlotte me olhando de cara feia porque estava adorando o final do seu conto. Sorry, dear, você vai ter que esperar a volta da minha inspiração.
imagem: FFFFOUND!
domingo, outubro 11, 2009
Estado de felicidade
Faço anos, é meu aniversário, nasci no dia de hoje... é dia de ser boba!!!! Eeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee!
imagem:Ms Muse
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of montreal - fun loving nun
segunda-feira, setembro 21, 2009
Rima pobre
Sinais
Liberdade
sexta-feira, setembro 18, 2009
Eu possa me dizer do amor
De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
Soneto de Fidelidade - Vinícius de Moraes
imagem: Violet Voice
segunda-feira, setembro 14, 2009
Travada
sexta-feira, setembro 11, 2009
Casa na árvore
Um dia construirei uma casa na árvore, onde possa me esconder, refletir e ler histórias para as minhas crianças. Continuarei criança, com 40, 50, 60, 70 ou até quando a vida me permitir. Viverei sem medo de alturas, sem medo dos riscos e quando o esqueleto gasto não responder aos movimentos do cérebro, um elevador hidráulico me colocará no alto, para continuar sentindo o vento no rosto olhando a vida de cima como uma vencedora.
imagem: FFFFOUND!
imagem: FFFFOUND!
quarta-feira, setembro 09, 2009
terça-feira, setembro 08, 2009
Tempestades
quarta-feira, setembro 02, 2009
A Casa Amarela III
Charlotte sempre foi uma menina diferente, quando era pequena chegava atrasada nas aulas porque não resistia a dar mergulhos no rio no caminho pra escola e foi sempre assim enquanto foi crescendo, passava horas nadando no rio da localidade. Charlotte tinha uma personalidade sonhadora e criativa e se permitia viver isso. Enquanto nadava tinha visões e daí surgiam quadros que costumava pintar e vender na Vila. O rio lhe dava inspiração e a acalmava, podia se afastar de tudo, da confusão da convivência em uma família numerosa às fofocas que surgiam e a aborreciam porque todos se conheciam na Vila. Charlotte odiava a vida medíocre das mulheres da Vila onde vivia, que não faziam nada além de cuidar dos maridos e dos filhos e que tomavam conta da vida dos outros. Mulheres medíocres, ela sempre pensava e dizia pra mãe que a mandava se calar porque não se falava assim dos mais velhos. Charlotte foi crescendo e sempre que era obrigada e cumprimentar uma daquelas mulheres num "bom dia" formal, fechava a cara e balbuciava: mulher medíocre... e corria pro rio pra esquecer o mau humor que o encontro sempre lhe causava.
Foi nesse rio que conheceu o avô de Teresa, Filipe, paixão fulminante de ambos que levou ao casamento em seis meses. Um dia, Filipe sumiu e nunca mais se ouviu falar dele. Charlotte chorou tudo o que tinha pra chorar em uma semanda e depois disso nunca mais derramou uma lágrima.
Enquanto servia o café da manhã pra Teresa, Charlotte se lembrava do marido, das mulheres medíocres pelas quais sempre sentiu repulsa, da gravidez de Flora, mãe de Teresa, da felicidade pelo seu nascimento, do amor de seu marido, do tempo que passaram juntos e foi quando de repente virou-se pra Teresa, dizendo: Vamos viajar! Hein? disse Teresa com a maior cara de espanto. Ainda não sei pra onde vamos, mas decidi que vamos viajar.
continua...
Foi nesse rio que conheceu o avô de Teresa, Filipe, paixão fulminante de ambos que levou ao casamento em seis meses. Um dia, Filipe sumiu e nunca mais se ouviu falar dele. Charlotte chorou tudo o que tinha pra chorar em uma semanda e depois disso nunca mais derramou uma lágrima.
Enquanto servia o café da manhã pra Teresa, Charlotte se lembrava do marido, das mulheres medíocres pelas quais sempre sentiu repulsa, da gravidez de Flora, mãe de Teresa, da felicidade pelo seu nascimento, do amor de seu marido, do tempo que passaram juntos e foi quando de repente virou-se pra Teresa, dizendo: Vamos viajar! Hein? disse Teresa com a maior cara de espanto. Ainda não sei pra onde vamos, mas decidi que vamos viajar.
continua...
terça-feira, setembro 01, 2009
Uno
segunda-feira, agosto 31, 2009
Caminhos
domingo, agosto 30, 2009
Sem sentido
sábado, agosto 29, 2009
sexta-feira, agosto 28, 2009
A Casa Amarela II
O dia amanhecia cheirando a pão fresco e café que Charlotte havia preparado. Teresa aos fins de semana acordava preguiçosamente na hora que queria e acordou com o cheirinho de pão entrando pelo nariz, igualzinho aos desenhos animados que costumava ver na televisão. Levantou, foi ao banheiro escovar os dentes e tomar banho. Procurou no armário as roupas cor-de-rosa porque domingo era dia de rosa. Short balonê rosa pink, camiseta rosa com um hipopótamo lilás e sandálias havaianas rosa-clarinho e desceu, com o cabelo ainda pingando pelas costas abaixo.
Bom dia, vó! Bom dia!, virou-se de repente Charlotte que estava na cozinha. Menina, você está pingando a cozinha toda, vá enxugar esse cabelo direito. Ah, vó... o pão vai esfriar.., dizia Teresa já sentada pegando um pedaço do pão quente e se preparando para passar a manteiga. Agora... já! E lá foi Teresa, arrastando os pés, injuriada de perder o momento pão-quente/manteiga derretendo no pão. Voltou emburrada, mexendo no pão com a ponta do dedinho pra ver se ainda estava quente. Tá frio.., e olhou pra baixo, triste. Boba, tem mais no forno, ainda estão quentes. E Teresa pulou da cadeira com tanta pressa e alegria, que a cadeira foi ao chão fazendo barulho e acordando Romeu, que ainda roncava ao lado da geladeira.
Teresa tinha 10 anos, era magrela, ruiva, sardenta e tinha grandes olhos azuis que herdara da avó, os pais haviam emigrado para os EUA, há 2 anos, numa tentativa de melhorar a vida para pagarem, no futuro, a faculdade de Teresa.
E Charlotte tentava ser mais mãe do que avó para compensar a falta dos pais de Teresa, mas era difícil, passara os últimos dois anos vivendo em função de Teresa e deixando sua vida de lado, mas não se arrependia, a única neta era a grande felicidade na vida de Charlotte.
Charlotte era uma ainda uma mulher bonita de uns 50 anos, alta, ruiva e de pernas longas, e quando criança ganhou o apelido de Pippi, porque a achavam parecida com Pippi Longstockings, personagem do clássico infantil do sueco Astrid Lindgren.
Odiava o apelido e as meias da Pippi do livro, não gostava de meias, gostava de andar descalça, de sentir a terra, e por isso, quando era pequena costumava levar umas chineladas da mãe, que não conseguia que a filha fosse menos moleque. Aliás, os chinelos voavam na direção de Charlotte, mas nunca a atingiam, afinal não era essa a intenção de sua mãe.
continua...
Bom dia, vó! Bom dia!, virou-se de repente Charlotte que estava na cozinha. Menina, você está pingando a cozinha toda, vá enxugar esse cabelo direito. Ah, vó... o pão vai esfriar.., dizia Teresa já sentada pegando um pedaço do pão quente e se preparando para passar a manteiga. Agora... já! E lá foi Teresa, arrastando os pés, injuriada de perder o momento pão-quente/manteiga derretendo no pão. Voltou emburrada, mexendo no pão com a ponta do dedinho pra ver se ainda estava quente. Tá frio.., e olhou pra baixo, triste. Boba, tem mais no forno, ainda estão quentes. E Teresa pulou da cadeira com tanta pressa e alegria, que a cadeira foi ao chão fazendo barulho e acordando Romeu, que ainda roncava ao lado da geladeira.
Teresa tinha 10 anos, era magrela, ruiva, sardenta e tinha grandes olhos azuis que herdara da avó, os pais haviam emigrado para os EUA, há 2 anos, numa tentativa de melhorar a vida para pagarem, no futuro, a faculdade de Teresa.
E Charlotte tentava ser mais mãe do que avó para compensar a falta dos pais de Teresa, mas era difícil, passara os últimos dois anos vivendo em função de Teresa e deixando sua vida de lado, mas não se arrependia, a única neta era a grande felicidade na vida de Charlotte.
Charlotte era uma ainda uma mulher bonita de uns 50 anos, alta, ruiva e de pernas longas, e quando criança ganhou o apelido de Pippi, porque a achavam parecida com Pippi Longstockings, personagem do clássico infantil do sueco Astrid Lindgren.
Odiava o apelido e as meias da Pippi do livro, não gostava de meias, gostava de andar descalça, de sentir a terra, e por isso, quando era pequena costumava levar umas chineladas da mãe, que não conseguia que a filha fosse menos moleque. Aliás, os chinelos voavam na direção de Charlotte, mas nunca a atingiam, afinal não era essa a intenção de sua mãe.
continua...
quinta-feira, agosto 27, 2009
Barquinhos de papel
Pensei em te procurar, mas faltou coragem, em telefonar também pensei, e se você desligasse ao ouvir minha voz?
Decidi por escrever o que sinto em várias folhas iguais, a mesma frase e o mesmo sentimento. Transformei as folhas em barquinhos de papel porque você sempre me disse que gostava de viajar. E vou torcer para algum deles cruzar o teu caminho.
imagem: Restart My Heart...
Decidi por escrever o que sinto em várias folhas iguais, a mesma frase e o mesmo sentimento. Transformei as folhas em barquinhos de papel porque você sempre me disse que gostava de viajar. E vou torcer para algum deles cruzar o teu caminho.
imagem: Restart My Heart...
A Casa Amarela - I
Chovia, a janela batia forte pela força do vento, enquanto o cachorro latia, entrando ensopado pela varanda adentro assustando Charlotte. Romeu, que susto! Não vá se sacudir em cima de mim. E Romeu, muito pouco ligado nessa coisa de humanos, não deu ouvidos à Charlotte e deu uma boa sacudida no pelo, espirrando água em cima do que estava próximo. Cachorro vadio! Não sei porque te amo tanto, dizia Charlotte, que levantou deixando o tricô de lado pra pegar um pano pra secar a varanda e Romeu.
Teresa, alheia a tudo, lia no seu quarto que tinha papel de parede de bolinhas, que tinha escolhido com a avó, decoradora da maioria das casas da vila.
Vó Charlotte, não era uma avó comum, só tricotava em dias de chuva forte porque a relaxava e afastava o medo, tinha a ver com traumas da infância, quando num temporal, rezando ajoelhada perante os seus santinhos, a parede de cartão caiu e desmaiou pensando que seria soterrada. Não foi, mas aquilo causou o maior trauma em Charlotte que ficou gaga durante uns meses. Nunca mais rezou pra santo nenhum e pegou o maior medo de tempestades.
Charlotte e Teresa viviam numa casa amarela com janelas em madeira pintadas de roxo. Charlotte, além de ser uma mulher de vanguarda, adorava o roxo e todas as suas matizes, passou isso pra Teresa que não pestanejou em escolher o papel de parede do seu quarto na cor alfazema com bolinhas brancas.
A vida das duas transcorria na maior normalidade, Teresa com seus afazeres de criança, brincava, ia à escola e se divertia quando amigas invejavam a avó que tinha. Charlotte sempre levava e apanhava Teresa na escola montada num cavalo branco de manchas pretas, que tinha o nome de Tsunami porque era muito atrapalhado. Tsunami nem sempre gostava de obedecer e habitualmente, ao invés de tomar o caminho de casa nas rédeas de Charlotte, se embrenhava pela mata e ia parar no rio que margeava a vila. Era um rio tinhoso, que gostava de encher nas chuvas fortes e apavorava Charlotte.
continua...
Teresa, alheia a tudo, lia no seu quarto que tinha papel de parede de bolinhas, que tinha escolhido com a avó, decoradora da maioria das casas da vila.
Vó Charlotte, não era uma avó comum, só tricotava em dias de chuva forte porque a relaxava e afastava o medo, tinha a ver com traumas da infância, quando num temporal, rezando ajoelhada perante os seus santinhos, a parede de cartão caiu e desmaiou pensando que seria soterrada. Não foi, mas aquilo causou o maior trauma em Charlotte que ficou gaga durante uns meses. Nunca mais rezou pra santo nenhum e pegou o maior medo de tempestades.
Charlotte e Teresa viviam numa casa amarela com janelas em madeira pintadas de roxo. Charlotte, além de ser uma mulher de vanguarda, adorava o roxo e todas as suas matizes, passou isso pra Teresa que não pestanejou em escolher o papel de parede do seu quarto na cor alfazema com bolinhas brancas.
A vida das duas transcorria na maior normalidade, Teresa com seus afazeres de criança, brincava, ia à escola e se divertia quando amigas invejavam a avó que tinha. Charlotte sempre levava e apanhava Teresa na escola montada num cavalo branco de manchas pretas, que tinha o nome de Tsunami porque era muito atrapalhado. Tsunami nem sempre gostava de obedecer e habitualmente, ao invés de tomar o caminho de casa nas rédeas de Charlotte, se embrenhava pela mata e ia parar no rio que margeava a vila. Era um rio tinhoso, que gostava de encher nas chuvas fortes e apavorava Charlotte.
continua...
Fama
Cores
Não sei, me sinto hoje tão esquisita... Falava a mulher ao homem sentado à sua frente. É do calor, respondia ele sem paciência.
Várias dúvidas sobre o ser e o fazer criavam perguntas na cabeça daquela mulher que não obtinha respostas. O dia era quente, amornava a idéia e dava preguiça ao pensamento, a palavra embolava na boca e saía preguiçosa depois de goles no guaraná gelado.
Não sei o que fazer... dizia ela, com rosto triste. Que quer que eu diga? Podia sugerir o suicídio, você toparia? Dizia ele, com um sorriso estranho no canto da boca.
Não, acho que não, respondia ela, preguiçosa, deslizando na cadeira. A morte é recomeço, dizia ele, um recomeço em outra dimensão, alfinetava ele cruelmente. Triste, ela continuou, não quero outra vida, nem acredito nisso, me sinto estranha, angustiada, não sei o que é. Você tem tudo, o teu mal é esse, tem família, tem a mim, carro, empregadas, nada te falta, o suicídio te faria bem, ele continuava, gargalhando e se divertindo com a provocação.
Eu só queria ser diferente, tenho tido uns sonhos... são coloridos, sonho que vivo em outros lugares, converso com pessoas que não conheço e me sinto feliz, sonhei que morava num edifício, mas parecia um labirinto, onde havia vários pátios abertos e as paredes eram cor de barro e havia samambaias penduradas. Subindo as escadas encontrei com um homem que descia e que me chamou pra ajudá-lo numa vindima e aceitei, de repente me vi amassando uvas com os pés e o sumo era cor de sangue, saí dali e havia sangue nos pés, tentava limpar e aquilo ali, grudado, vermelho. Você se cortou? Perguntou ele. E ela sem reponder, continuou... continuei andando descalça e meninos grafitavam um muro incrivelmente branco e comprido e me chamaram pra grafitar, peguei na lata e quando me dei conta as cores que deviam estar na parede estavam em mim. Você não faz nada certo mesmo, nem no sonho você foi capaz de pintar uma parede, zombava ele. E continuou sem lhe dar atenção, parecia falar sozinha, olhando pro nada... eram tantas cores, eu me sentia feliz por estar colorida, continuava com os pés sujos de sangue e aquele azul, amarelo, vermelho no meu corpo era tão real, nunca me senti tão viva e feliz.
Quanta bobagem num sonho, caçoou dela.
Sem responder, ela finalmente prestou atenção ao que ele dizia e o olhou como nunca havia feito antes, pensou na vida que levava ao lado dele e no que havia se tornado nos últimos três anos, uma mulher que esperava ser a partir do outro, que não tinha filhos porque ele não queria apesar de sua insistência e planos a dois durante o namoro, aceitava um trabalho que não a realizava porque o salário era alto e tinha regalias, e pela primeira vez sentiu raiva e nojo dele, sentiu pena de si mesma por ter aceitado viver isso e não ser feliz.
Quero o divórcio, disse ela de sopetão. Como? Que bobagem! Já sei, outro sonho onde você se separava de mim, riu ele. Não, eu quero mesmo me separar de você, quero o divórcio! Como assim, do nada? Não, do nada não, quero ser feliz. E levantou saindo dali, deixando-o de boca aberta. Andou um pouco, parou, se voltou pra ele e disse:
Vou colorir a minha vida!
Várias dúvidas sobre o ser e o fazer criavam perguntas na cabeça daquela mulher que não obtinha respostas. O dia era quente, amornava a idéia e dava preguiça ao pensamento, a palavra embolava na boca e saía preguiçosa depois de goles no guaraná gelado.
Não sei o que fazer... dizia ela, com rosto triste. Que quer que eu diga? Podia sugerir o suicídio, você toparia? Dizia ele, com um sorriso estranho no canto da boca.
Não, acho que não, respondia ela, preguiçosa, deslizando na cadeira. A morte é recomeço, dizia ele, um recomeço em outra dimensão, alfinetava ele cruelmente. Triste, ela continuou, não quero outra vida, nem acredito nisso, me sinto estranha, angustiada, não sei o que é. Você tem tudo, o teu mal é esse, tem família, tem a mim, carro, empregadas, nada te falta, o suicídio te faria bem, ele continuava, gargalhando e se divertindo com a provocação.
Eu só queria ser diferente, tenho tido uns sonhos... são coloridos, sonho que vivo em outros lugares, converso com pessoas que não conheço e me sinto feliz, sonhei que morava num edifício, mas parecia um labirinto, onde havia vários pátios abertos e as paredes eram cor de barro e havia samambaias penduradas. Subindo as escadas encontrei com um homem que descia e que me chamou pra ajudá-lo numa vindima e aceitei, de repente me vi amassando uvas com os pés e o sumo era cor de sangue, saí dali e havia sangue nos pés, tentava limpar e aquilo ali, grudado, vermelho. Você se cortou? Perguntou ele. E ela sem reponder, continuou... continuei andando descalça e meninos grafitavam um muro incrivelmente branco e comprido e me chamaram pra grafitar, peguei na lata e quando me dei conta as cores que deviam estar na parede estavam em mim. Você não faz nada certo mesmo, nem no sonho você foi capaz de pintar uma parede, zombava ele. E continuou sem lhe dar atenção, parecia falar sozinha, olhando pro nada... eram tantas cores, eu me sentia feliz por estar colorida, continuava com os pés sujos de sangue e aquele azul, amarelo, vermelho no meu corpo era tão real, nunca me senti tão viva e feliz.
Quanta bobagem num sonho, caçoou dela.
Sem responder, ela finalmente prestou atenção ao que ele dizia e o olhou como nunca havia feito antes, pensou na vida que levava ao lado dele e no que havia se tornado nos últimos três anos, uma mulher que esperava ser a partir do outro, que não tinha filhos porque ele não queria apesar de sua insistência e planos a dois durante o namoro, aceitava um trabalho que não a realizava porque o salário era alto e tinha regalias, e pela primeira vez sentiu raiva e nojo dele, sentiu pena de si mesma por ter aceitado viver isso e não ser feliz.
Quero o divórcio, disse ela de sopetão. Como? Que bobagem! Já sei, outro sonho onde você se separava de mim, riu ele. Não, eu quero mesmo me separar de você, quero o divórcio! Como assim, do nada? Não, do nada não, quero ser feliz. E levantou saindo dali, deixando-o de boca aberta. Andou um pouco, parou, se voltou pra ele e disse:
Vou colorir a minha vida!
Samira e Aurélio
Samira tinha 30 e poucos, algumas sardas que sobressaiam no cabelo ruivo e encacheado pelos ombros, os olhos pareciam estar sempre iluminados de uma estranha luz de tão verdes que eram, ondulava, não andava e seus passos eram curtos como os de gueixa. Conheceu Aurélio na faculdade, garoto promissor da turma de engenharia enquanto Samira estudava letras. Se encontraram e houve paixão, derrubando livros na biblioteca e Samira pisando no calo do dedão do pé de Aurélio, rosto quadrado atrás de um óculos quadrado, que engoliu a dor ao ver aquele mulherão que apareceu na sua frente.
Samira não o percebeu e menos ainda se apaixonou, apesar do 1,80m de Aurélio, e Samira virou a obsessão de Aurélio que respirava e comia Samira, não literalmente, mas em todos os momentos de seu dia lá estava ela, linda, alta, com pézinhos de gueixa que ondulava na cabeça de Aurélio e ele definhava pensando em Samira e seus olhos verdes.
Decidiu se inscrever pra trabalhar na biblioteca para poder vê-la todos os dias. E enquanto ela procurava por livros, ele solícito a ajudava, ela os devolvia e ele sorria, sonhando com o dia em que teria coragem de se declarar à ela... os dias foram passando, o curso acabando e o dia da formatura dos dois chegando.
Até que Aurélio se encheu finalmente de coragem e separou um convite de sua formatura pra Samira, e dentro dele um bilhete onde finalmente declarava sua paixão, tudo pensado, escrito nos mínimos detalhes, incluía um convite pra jantar no Meza Bar, o lugar era a cara de Samira com a decoração que era um misto de anos 70 com art déco, e esperou.
O dia chegou, Aurélio aflito atrás do balcão da biblioteca, suava de nervoso com medo da coragem faltar e não conseguir entregar o convite à Samira e perdido em seus pensamentos ela surgiu. Tinha um vestido curto, verde que valorizava o tom da sua pele e dos seus cabelos e a fazia uma diva aos olhos de Aurélio e antes que ele abrisse a boca, Samira num sorriso largo e feliz depois de um "bom dia, Aurélio", abriu a bolsa e tirou dois convites, o de sua formatura e o outro de seu casamento. Aurélio, desmaiou, e assim ficou durante dois dias no hospital, acordou chamando por Samira, e até hoje continua internado. Samira, que encontrou o convite no chão atrás do balcão da biblioteca quando foi socorrer Aurélio, se inscreveu no curso de enfermagem e arranjou um estágio no hospital para poder cuidar dele. O casamento de Samira? Não aconteceu.
Samira não o percebeu e menos ainda se apaixonou, apesar do 1,80m de Aurélio, e Samira virou a obsessão de Aurélio que respirava e comia Samira, não literalmente, mas em todos os momentos de seu dia lá estava ela, linda, alta, com pézinhos de gueixa que ondulava na cabeça de Aurélio e ele definhava pensando em Samira e seus olhos verdes.
Decidiu se inscrever pra trabalhar na biblioteca para poder vê-la todos os dias. E enquanto ela procurava por livros, ele solícito a ajudava, ela os devolvia e ele sorria, sonhando com o dia em que teria coragem de se declarar à ela... os dias foram passando, o curso acabando e o dia da formatura dos dois chegando.
Até que Aurélio se encheu finalmente de coragem e separou um convite de sua formatura pra Samira, e dentro dele um bilhete onde finalmente declarava sua paixão, tudo pensado, escrito nos mínimos detalhes, incluía um convite pra jantar no Meza Bar, o lugar era a cara de Samira com a decoração que era um misto de anos 70 com art déco, e esperou.
O dia chegou, Aurélio aflito atrás do balcão da biblioteca, suava de nervoso com medo da coragem faltar e não conseguir entregar o convite à Samira e perdido em seus pensamentos ela surgiu. Tinha um vestido curto, verde que valorizava o tom da sua pele e dos seus cabelos e a fazia uma diva aos olhos de Aurélio e antes que ele abrisse a boca, Samira num sorriso largo e feliz depois de um "bom dia, Aurélio", abriu a bolsa e tirou dois convites, o de sua formatura e o outro de seu casamento. Aurélio, desmaiou, e assim ficou durante dois dias no hospital, acordou chamando por Samira, e até hoje continua internado. Samira, que encontrou o convite no chão atrás do balcão da biblioteca quando foi socorrer Aurélio, se inscreveu no curso de enfermagem e arranjou um estágio no hospital para poder cuidar dele. O casamento de Samira? Não aconteceu.
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